Para quem achou que os conflitos e tensões mundiais começaram recentemente, se enganou!
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A Guerra Fria foi responsável pela polarização mundial e, entre 1947 e 1991, desencadeou uma série de pequenos conflitos como resultado da disputa entre EUA e URSS.
A Guerra Fria aconteceu entre 1947 e 1991 e marcou a polarização do mundo em dois blocos: um liderado pelos americanos e outro pelos soviéticos. Essa polarização gerou um conflito político-ideológico entre as duas nações e seus respectivos blocos, cada qual defendendo os seus interesses e a sua ideologia.
A Guerra Fria nunca gerou um conflito armado direto entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), mas o conflito de interesses entre os dois países resultou em conflitos armados ao redor do mundo e em uma disputa que ocorreu em diversos níveis como a economia, a diplomacia, a tecnologia etc.
O que causou o início da Guerra Fria?
Guerra Fria foi iniciada logo após a Segunda Guerra Mundial, conflito que aconteceu entre 1939 e 1945. Ao final desse conflito, EUA e URSS saíram como as duas grandes potências mundiais e essa situação contribuiu para o surgimento de um cenário de polarização. O início da rivalidade entre americanos e soviéticos no pós-guerra é debatido pelos historiadores.
Considera-se que a Guerra Fria iniciou-se por meio de um discurso realizado por Harry Truman, no Congresso americano, em 1947. Nesse discurso, o presidente americano solicitava verba para combater o avanço do comunismo na Europa e alegava que era papel do governo americano combater o avanço da influência soviética.
Com isso, iniciou-se a Doutrina Truman, ideologia que englobou as medidas realizadas pelo governo americano para conter o avanço do comunismo na Europa. Uma das etapas dessa doutrina foi o Plano Marshall, o plano de recuperação da Europa destruída pela guerra. O objetivo desse plano era aumentar a influência americana na Europa, e os soviéticos percebendo isso proibiram os países de seu bloco a aderirem ao Plano Marshall.
O discurso praticado pela Doutrina Truman utilizava de um discurso alarmista que colocava o governo soviético como um governo expansionista. O governo americano, no entanto, sabia que a postura dos soviéticos era uma postura defensiva, porque o país estava destruído pela guerra e buscava garantir seus interesses apenas na sua zona de influência.
Além disso, outro ponto importante é que as dificuldades econômicas que os países europeus enfrentariam no pós-guerra poderiam abrir espaço para o avanço do comunismo e isso preocupava os americanos. Assim, os americanos desenvolveram um discurso maniqueísta, que foi responsável por polarizar a relação entre as duas nações.
Os soviéticos, que, a princípio, interessavam-se apenas em garantir o controle sobre sua zona de influência, acabaram incorporando o discurso maniqueísta, o que concretizou a polarização que marcou a Guerra Fria.
Características
Dentre as características da Guerra Fria (1947-1991), destacam-se:
- Polarização: por meio de dois blocos, um sob influência americana e outro sob influência soviética, foi a grande marca da Guerra Fria. Com isso, americanos e soviéticos possuíam uma retórica agressiva contra seu adversário e tinham aliados estratégicos. Houve uma tentativa de alguns países de realizarem uma política externa independente, sem que fosse necessário aliarem-se a algum dos dois países.
- Corrida armamentista: a disputa entre as duas nações e a procura por mostrar-se como força hegemônica motivaram ambos a investirem pesadamente no desenvolvimento de armas de destruição em massa, as bombas nucleares e termonucleares.
- Corrida espacial: a disputa entre as duas nações manifestou-se também na área tecnológica e, entre 1957 e 1975, concentrou-se na exploração do espaço.
- Interferência estrangeira: os dois países realizaram, ao longo dos anos de Guerra Fria, uma série de interferências em nações estrangeiras como forma de garantir seus interesses. O Brasil, por exemplo, foi alvo disso quando os americanos apoiaram o golpe militar de 1964.
Acontecimentos mais importantes da Guerra Fria
A tensão gerada pela Guerra Fria repercutiu de inúmeras maneiras no mundo ao longo da história humana. Destacaremos algumas informações desses acontecimentos abaixo:
Revolução Chinesa
A China foi um dos locais influenciados pela ideologia comunista e, desde a década de 1920, o país vivia uma guerra civil travada por nacionalistas (apoiados pelo EUA) e comunistas (apoiados pela URSS). Depois do fim da 2ª Guerra, a guerra civil retomou, e os comunistas conseguiram se impor e conquistaram o poder do país em 1949. O avanço do comunismo pela China alarmou os americanos e fez com que pesados investimentos dos EUA fossem destinados a locais como Japão e Coreia do Sul.
Guerra da Coreia
A Guerra da Coreia foi travada entre 1950 e 1953 e contou com o envolvimento de soldados americanos e soviéticos.
Esse foi o primeiro grande conflito, depois da Segunda Guerra Mundial, e aconteceu entre 1950 e 1953. Esse conflito foi resultado da divisão da Península da Coreia, feita por americanos e soviéticos, em 1945. O norte, governado por comunistas, e o sul, governado por um governo capitalista.
A tensão desenvolvida entre os dois lados, entre 1945 e 1950, levou os norte-coreanos a invadirem a Coreia do Sul. O objetivo era reunificar a Coreia sob um governo comunista. Os soviéticos participaram do conflito às escondidas, e os americanos entraram no conflito já em 1950. O conflito foi encerrado sem vencedores e a península permanece dividida até hoje.
Crise dos Mísseis em Cuba
O momento de maior tensão em toda a Guerra Fria ficou conhecido como Crise dos Mísseis e aconteceu em Cuba, em 1962. Cuba havia passado por uma revolução nacionalista, em 1959, e um tempo depois aliou-se com os soviéticos por causa dos embargos americanos. Em 1962, os soviéticos resolveram instalar uma base de mísseis em Cuba e deu início à crise diplomática.
Os mísseis instalados em Cuba não representavam séria ameaça aos americanos, mas prejudicavam a imagem do presidente John F. Kennedy. Com isso, o governo americano ameaçou os soviéticos de guerra, caso os mísseis soviéticos não fossem retirados. Duas semanas depois, os soviéticos retiraram os mísseis de Cuba e, em troca, os americanos retiraram mísseis da Turquia.
Guerra do Vietnã
A Guerra do Vietnã aconteceu entre 1959 e 1975 e foi um dos momentos mais tensos dos EUA na Guerra Fria. Nessa guerra, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul travavam um conflito aos mesmos moldes do que havia acontecido na Coreia. Os americanos, em socorro aos sul-vietnamitas, invadiram o país e passaram a lutar contra o Vietnã do Norte.
A Guerra do Vietnã foi cara para a economia americana e custou milhares de vidas ao seu exército, que se retirou do país, em 1973, derrotados. Em 1976, o país foi unificado sob domínio do governo do Vietnã do Norte.
Guerra do Afeganistão de 1979
Esse é o conhecido “Vietnã dos soviéticos”. Os soviéticos invadiram o Afeganistão, em 1979, em apoio do governo comunista daquele país contra os rebeldes fundamentalistas islâmicos que atuavam, sobretudo, no interior afegão. Ao longo de dez anos de conflito, os soviéticos lutaram em vão contra as forças rebeldes. Exauridos economicamente, os soviéticos retiraram-se do Afeganistão, em 1989.
Alemanha na Guerra Fria
A Alemanha foi um local de extrema importância durante a Guerra Fria, porque ali a polarização manifestou-se de forma intensa. O país foi dividido em zonas de influência, no fim da 2ª Guerra, e elas resultaram no surgimento de duas Alemanhas: a Alemanha Ocidental, aliada dos EUA, e a Alemanha Oriental, aliada da URSS.
Essa divisão também foi refletida em Berlim que, a partir de 1961, foi dividida por um muro construído pelo governo da Alemanha Oriental, em parceria com a União Soviética. Os comunistas queriam colocar fim a evasão de população da Alemanha Oriental para Berlim Ocidental. O Muro de Berlim permaneceu de pé por 28 anos e foi o símbolo da polarização causada pela Guerra Fria.
Acesse também: Entenda como ocorreu a queda do Muro de Berlim
Cooperação política e militar
Ao longo dos anos da Guerra Fria, americanos e soviéticos procuraram garantir sua influência sobre seu bloco e para isso criaram grupos que realizaram a cooperação econômica, política e militar entre seus aliados.
- Plano Marshall e Comecon: o Plano Marshall, como citado, foi criado pelos EUA para financiar a reconstrução da Europa e conter o avanço do comunismo. Os soviéticos, em represália, criaram o Conselho para Assistência Econômica Mútua, o Comecon, que garantia apoio econômico aos países do bloco comunista.
- Otan e Pacto de Varsóvia: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi criado como uma aliança militar entre os países alinhados aos Estados Unidos, em 1949. O Pacto de Varsóvia, por sua vez, criado em 1955, visava a garantir a segurança dos países do bloco comunista.
Fim da Guerra Fria
A partir da década de 1970, a economia da União Soviética começou a entrar em crise. A crise foi resultado da falta de ações do governo soviético para dinamizar a economia do país, que já demonstrava estar em atraso tecnológico e econômico em relação às grandes potências mundiais, e os indicadores sociais do país começaram a cair.
A disparada no valor do petróleo criou um clima de falsa prosperidade, que impediu que reformas na economia soviética acontecessem. O envolvimento do país na Guerra do Afeganistão e o acidente nuclear que aconteceu em Chernobyl, em 1986, contribuíram para o fim da URSS, pois impuseram pesados gastos a um país com uma economia já fragilizada.
O último presidente soviético, Mikhail Gorbachev, começou a realizar reformas (Glasnost e Perestroika) de abertura do país para o Ocidente, sobretudo na economia, e essas levaram ao desmantelamento da União Soviética. Quando Gorbachev renunciou, em 25 de dezembro de 1991, a URSS foi dissolvida e isso marcou o fim da Guerra Fria.
Por Daniel Neves
Graduado em História
Graduado em História
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